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Há
dias em que tudo se afigura desolador, caracterizado pela perda de
sentido, sem qualquer estímulo para o trabalho de divulgação e de
preservação do bem na Terra.
Há
períodos na existência humana em que todas as florações da alegria e do
entusiasmo emurchecem, demonstrando a aparente inutilidade da sua
benéfica ação.
Há
fases no percurso carnal, em que proliferam o mal e a agressividade em
crescimento, asfixiando as débeis manifestações da bondade e da
abnegação.
Há
ocasiões em que a predominância da vulgaridade e do ressentimento
golpeia as expressões da gentileza e da dignidade, parecendo conduzir
tudo e todos ao caos.
Há
ocorrências perturbadoras que se multiplicam na condição de escalracho
maldito, dominando o trigal das experiências de amor e de caridade
direcionadas às criaturas humanas.
Olhando-se
superficialmente a cultura social vigente e os indivíduos, repontam
alarmantes índices de perversidade, de gozo exaustivo e de loucura pelo
poder e pelo prazer sem freio nem dimensão.
Todos
os que se envolvem nos ideais de engrandecimento da sociedade
interrogam, com frustração, se têm valido as propostas da honradez e as
lições sublimes do Evangelho de Jesus com os seus mártires e apóstolos,
pois que apraz aos viandantes carnais tudo quanto leva à consumpção, ao
desar, ao invés da alegria pura e da harmonia indispensável ao
equilíbrio e à plenitude.
Há,
é certo, predominância do vício escancarado e, sob disfarces variados, o
aspecto pandêmico do cinismo e do desrespeito aos códigos de ética e de
moral, prevalecendo a face zombeteira dos triunfadores da
desonestidade, famosos e difamados, nos postos que conquistaram mediante
o suborno, a traição e a astúcia.
Mas, não são realmente felizes, tranquilos...
Estão
hipnotizados, esses triunfadores de um momento, marchando
inexoravelmente na direção do deserto que os aguarda, ardente e
desolador.
Sorridentes,
mas receosos, inseguros embora prepotentes, empanturram-se de poder e
intoxicam-se no álcool e nas drogas ilícitas, porque não suportam a
lucidez da consciência ultrajada, a fim de fugirem da presença da culpa e
do desamor.
Reconhecem
que ninguém os ama, embora se exibam ao seu lado, como cachorrinhos que
aguardam as migalhas que venham a cair das suas mesas ricas.
Na
primeira oportunidade, abominam-nos, abandonam-nos, execram-nos, porque
tampouco se sentem amados e respeitados. Sabem que são utilizados na
ruidosa corte da exibição, na qual um usa o outro, que é sempre
descartável.
...Este é o deserto social!
*
Nunca duvides do êxito da verdade.
Nuvem alguma pode deter indefinidamente a luminosidade solar, por mais se demore em aparente impedimento.
Foi
num desses desertos que, às portas de Damasco, Jesus apareceu a Saulo,
triunfante e enganado, que seguia encarregado de infausta missão contra
um dos Seus discípulos.
Ao
impacto da Sua presença, derreou da animália ricamente adornada e
percebeu a gloriosa figura luminescente, passando a sofrer o horror da
cegueira que o tomou, acompanhada do tormentoso arrependimento em torno
da hórrida conduta que se permitia.
Nesse
deserto, a viagem foi para dentro, para a necessidade do autoencontro,
do redescobrimento, da reidentificação com a vida e do retorno aos
sagrados objetivos existenciais que desprezara até aquele momento.
Ali nasceu o apóstolo das gentes, o desbravador dos desertos humanos, expandindo o reino de Deus em todas as possíveis direções.
A
linguagem do tempo é um presente agora, um contínuo suceder que altera
todas as paisagens: as agrestes reverdecem-se, as montanhosas são
corroídas, as pantanosas abrem-se em valas de liberação dos fluidos
pútridos.
A
água suave, nesse largo, infinito tempo, vence a rocha, o vento
cantante desgasta o granito vigoroso, o fogo altera a floresta...
Também
o ser humano, mesmo quando soberbo e ingrato, arbitrário e dominador,
corroído pelas viroses da culpa, necessitando de afeto que não soube
despertar pelo caminho transforma-se, amolda-se, cede ao impositivo das
inevitáveis alterações evolutivas.
Ninguém consegue fugir de si mesmo ou viver saudável sem um propósito, um sentido psicológico na sua existência.
O
indivíduo mais inflexível nos seus ideais e convicções assim permanece
até o momento em que a dor se lhe penetra, insinuante e contínua,
passando a habitar-lhe as paisagens dos sentimentos.
Nesse
deserto, porém, numa caminhada silenciosa e demorada, surgem os
tesouros da reflexão, do entendimento dos valores espirituais, da
necessidade de ser pleno.
Não importa quando esse sublime fenômeno venha a acontecer, porquanto o importante é que sucederá.
A
bênção do tempo agora é responsável pela edificação do anjo e do
holocausto de amor, porque o sofrimento é uma dádiva que Deus confere
aos Seus eleitos.
*
Após
a visita de Jesus a Saulo, no deserto em Damasco, o prepotente rabino,
déspota e criminoso, teve necessidade de três anos em outro deserto,
para diluir a construção de ferro do orgulho em que se encarcerava e
argamassar a realidade do amor no coração ralado de sofrimentos.
Foi,
portanto, reflorescendo as emoções que ele se deixou impregnar por
Jesus e contribuiu vigorosamente para torná-lo conhecido e amado.
Trabalha
o teu deserto interior com os instrumentos do amor e da compaixão e o
transformarás em jardim de dádivas, tornando o mundo melhor,de onde o
mal fugirá envergonhado.
Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica da noite de 4 de março de 2013, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia. Em 17.6.2013. |
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Gosto muito das páginas de joana de Ângelis, sempre muito boas para se refletir.
ResponderExcluirUm grande abraço, Élys.