quinta-feira, 1 de março de 2012

ARTIGO – Tranquilidade / Publicado Coluna Bem Viver do Jornal Estado de Minas

“Antônio Roberto, tudo o que eu quero na vida é ter PAZ. Isto está difícil, afinal por mais que me esforce não encontro receptividade nas pessoas que me cercam. A exploração, a deslealdade, a competição e destrutividade parece ser a marca dos nossos dias. Fale sobre isso, por favor! Ednéia de Vespasiano”.
O desejo de paz e tranqüilidade é de todos nós. De maneira consciente ou não buscamos a paz. Tudo o que fazemos tem esse objetivo, muito embora nem sempre a consigamos. A maioria das coisas que aprendemos para ter tranqüilidade não nos leva a ela. É preciso, portanto, repensar os caminhos, os princípios que podem nos levar à harmonia conosco mesmos e com o mundo. O primeiro princípio é o da interioridade. Devemos buscar a tranqüilidade dentro de nós, nos nossos pensamentos, nos nossos sentimentos e, por conseqüência, nas nossas ações. O mundo é, por natureza, dual: coisas boas e coisas ruins, pessoas bondosas e pessoas cruéis, verdade e falsidade, saúde e doença, vida e morte, sucesso e fracasso e assim por diante. Esperar tranqüilidade a partir da perfeição, da realidade, incluindo as outras pessoas, é gastar toda energia na direção errada; é lutar em vão, é ficar cada dia mais angustiado e deprimido. Ao se emuciar esse princípio de que não são circunstâncias ou pessoas que nos fazem felizes ou infelizes, mas a forma como lidamos com as circunstâncias, muitas pessoas concordam, mas na prática funcionam negando o princípio.
Quando perguntamos a alguém por que está deprimido ou intranqüilo, a resposta, quase sempre, é culpando o mundo por esses sentimentos:
-“Estou deprimida porque meu marido me traiu”.
-“Porque meu filho perdeu o vestibular”.
-“Porque minha mulher está fria comigo”.
-“Porque minha mãe foi injusta comigo”.
-“Porque minha tia morreu”.
-“Porque meu amigo foi ingrato comigo”.
-“Porque fui roubado ou desprezado ou incompreendido ou humilhado ou ignorado, etc, etc”…
Essas respostas significam: o mundo é mau, as pessoas são más e não estão me fazendo feliz. Elas tiraram minha tranqüilidade. A conseqüência de responsabilizar o mundo externo pelas nossas perdas, nossas doenças, nossos limites, nossos sofrimentos é que, ao invés de gastarmos energia para atravessarmos e eliminarmos nossos problemas, nós a gastamos para provar que temos razão de estarmos chateados e tentar convencer às pessoas que elas estão erradas, que devem reconhecer seus erros, que devem mudar para novamente entrarmos em paz.
Cada um de nós deve assumir integralmente a responsabilidade por tudo o que pensamos, sentimos ou fazemos. Uma pessoa que acredita, de verdade, que a tranqüilidade é interna, que é da sua responsabilidade e que só ela pode se dar isso, as respostas às perguntas acima seriam respondidas de maneira diferente: -“Estou deprimido (a), angustiado (a) e sem paz porque não estou sabendo lidar, no pensamento, no sentimento e na ação com a traição do meu marido, com a perda do meu filho, com a frieza da minha mulher, com a injustiça da minha mãe, com a morte da minha tia, com a ingratidão do meu amigo, com o roubo, o desprezo, a incompreensão e a humilhação”.
Outro princípio para se alcançar a paz é uma devoção intransigente e uma valorização extremada ao momento presente. A raiz de todo sofrimento emocional é o pensamento e os sentimentos negativos decorrentes . Os pensamentos obsessivos a fatos negativos do passado ou a possíveis fatos negativos no futuro são os responsáveis pelo envenenamento da nossa alma, através da saudade, da mágoa, da culpa, da vergonha, no que refere ao passado e do ciúme, do medo, da ansiedade no que se refere ao futuro. Como é possível tranqüilidade a uma pessoa que vive remoendo coisas acontecidas há 6 meses, 1 ano, 2 anos ou mais? Como é possível paz no coração se queremos controlar o que pode acontecer no futuro?
Outro princípio para a harmonia no coração é a aceitação integral da imperfeição humana. A própria e a dos outros. A resistência aos nossos erros e às fraquezas das outras pessoas é causa de muito sofrimento psicológico. Podemos não concordar com os erros, mas isso não nos obriga a estar com nosso coração em permanente estado de luta com o mal, através do ódio, da vingança e da vontade de destruir os que erraram fisicamente, profissionalmente ou socialmente. A tranqüilidade, a harmonia pessoal só se alcança com muito amor no coração. Os princípios da paz são os mesmos princípios de um coração amoroso. Amor é alegria, é compaixão (no sentido de compreender a dor e a imperfeição do outro), e ausência de crítica, é admirar o mundo tal qual ele é. Antigamente eu não conseguia entender a proposta de Jesus Cristo de “amar os inimigos”. Hoje começo a entendê-la. Significa que até podemos ter inimigos, pessoas que nos querem mal, que gostariam de nos destruir, que nos queiram submeter a elas, que não aceitam o nosso “não”, mas que não devemos ser inimigos deles. No sentido subjetivo. Não colocar nossos corações numa relação de força, com sentimentos adoecidos que nos tiram a paz. Quanto mais amor na alma, mais tranqüilidade.
Antônio Roberto

Um comentário:

  1. Que beleza este texto, Leandra. Muito esclarecedor. A paz é um estado de espírito, não está nos outros, e sim dentro de nós mesmos. Buscar a perfeição nos outros, nos faz perder valiosas oportunidades de buscar a perfeição em nós.
    Beijinhos!♥
    Mari

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